Educação para o Século XXI no Ensino Superior
Sep 1, 2015·7 min read

Com o passar do tempo a sociedade se transformou: passamos pela revolução industrial no século XVIII e pela linha de montagem de Ford no século XX. Tomando por base esse modelo fabril, as escolas começaram a produzir alunos "padronizados" através de uma educação engessada em que todos foram obrigados a aprender as mesmas coisas, no mesmo ritmo e da mesma maneira, se estendendo até às universidades. Tais alunos atenderam as necessidades mecanicistas das grandes empresas ao longo século XX. Todavia, como resultado de toda a evolução alcançada, a complexidade dos problemas aumentou e cada vez mais precisamos de equipes interdisciplinares composta por pessoas capazes de pensar, resolver problemas, trabalhar em equipes, e entregar resultados concretos e não simplesmente realizar trabalhos mecânicos.
Uma nova realidade impõe a necessidade de uma educação congruente, que prepare alunos para exercer suas atividades a nível profissional e que saibam lidar com os problemas reais. As empresas deixaram de olhar apenas as nota dos alunos e o conteúdo que foi visto em sala e passaram a exigir as chamadas soft skills — habilidades como comunicação, perfil de liderança, capacidade de trabalhar em equipe, pró-atividade, comprometimento, entre outras que surgem principalmente por meio de vivências e não se adquire somente sentado em uma cadeira. Porém, embora as universidades apresentem um currículo recheado de cálculos e outras disciplinas (das quais provavelmente poucas serão efetivamente utilizadas pelos alunos depois de formados), praticamente não há disciplinas e projetos que os ajudem a desenvolver essas chamadas soft skills e a capacidade de pensar, criar soluções inovadoras e principalmente coloca-las em prática.
Abordagens inovadoras em educação
Educadores, universidades e países perceberam a discrepância entre os alunos que formavam e o que o mercado e a sociedade precisam para solucionar os problemas do novo século — sejam eles empresariais ou sociais — e passaram a surgir novas palavras da moda na educação, como:
· Sala de Aula Invertida: Onde os alunos se preparam antes da aula e a sala vira um local de discutir, tirar dúvidas, fazer exercícios e atividades;
· Desconstrução da Sala de aula: Alunos não são mais separados em turmas e anos, passam a construir junto com a escola seu aprendizado e o ambiente onde irão se desenvolver, tomado decisões em assembleias junto com os professores diretores da escola.
· MOOCs: São portais onde temos vídeos de aulas de algumas das melhores universidades do mundo de graça na internet para quem quiser assistir;
· Aprendizagem por Projeto: Nessa metodologia de ensino, ao invés do professor apenas despejar conhecimento os alunos aprendem por meio de projetos que devem ser desenvolvidos ao longo da disciplina.
· Gamificação: Através da aplicação de vários conceitos usados em games, o aprendizado se torna um jogo, usando ferramentas para motivar os alunos e tornar a escola um local mais interessante.
· Conteúdo Aberto: No mundo de hoje temos várias respostas a uma googlada de distância e devemos aproveitar isso na sala de aula.
· Interdisciplinaridade: O conhecimento não se encontra dividido em caixinhas, como as escolas tradicionais cartesianas insistam que seja. Devemos buscar conhecer pelo menos o básico de algumas áreas para que possamos, no mínimo, conversar com outros profissionais.
Embora ainda não sejam a maioria já vemos universidades com currículos cada vez mais inovadores, visando preparar os alunos para esse novo mundo, como exemplo podemos citar o D-Lab do MIT, que junta interdisciplinaridade e aprendizado baseado em projetos; Projeto Minerva, onde os alunos têm aulas envolta do globo com acesso as melhores bibliotecas e museus do mundo; MBAs de Harvard nos quais alunos vão a países subdesenvolvidos com o objetivo de desenvolver um produto que possa ser lançado por uma empresa parceira local.
No Brasil estamos engatinhando nesse sentido, mas podemos citar à disciplina da Fundação Getulio Vargas (FGV) em parceria com a Artemisia chamada "Negócios com Impacto Social", na qual os alunos aprendem sobre negócios de impacto social e colocam a teoria em prática indo a comunidades carentes, mapeando-as e sugerindo aos líderes locais negócios que possam gerar ao mesmo tempo renda e benefícios sociais a população local.

Infelizmente iniciativas como a da FGV são poucas, e muitas vezes não recebem apoio. Outra universidade que vem contra a maré tradicional é a Universidade Federal do ABC (UFABC), que possui um projeto pedagógico onde os alunos ingressam em um bacharelado interdisciplinar e cursam matérias de exatas, biológicas, químicas e humanas separadas em eixos de conhecimento e só depois de construir essa base interdisciplinar prosseguem para o curso escolhido, podendo inclusive optar por cursar mais de um curso simultaneamente, isso além de ter uma elevada carga horária em laboratórios e trabalhos em equipe. Porém, apesar de sua proposta inovadora, a universidade enfrenta sérios problemas, principalmente em relação aos seus professores, muitos passaram toda a vida no método tradicional de ensino, e não conseguem compreender as peculiaridades desse novo modelo, acabando por querer passar para frente as mesmas coisas e do mesmo modo que aprenderam há décadas.
Na vanguarda deste movimento podemos citar ainda o exemplo da Uniamérica, universidade paranaense que está reestruturando seu projeto pedagógico com base nas metodologias de ensino baseadas em projeto e sala de aula invertida, objetivando oferecer ao aluno uma aprendizagem ativa. Em alguns cursos da universidade foram abolidas as disciplinas tradicionais e as aulas expositivas. As competências necessárias são desenvolvidas através de projetos semestrais temáticos. O aluno escolhe um problema real para trabalhar os temas daquele período. Cada aluno ainda conta com um mentor para lhe ajudar a desenvolver suas competências necessárias.
No Brasil, além de alguns poucos exemplos soltos vindo de universidades, como os citados, as maiores movimentações pela mudança na educação superior tradicional vêm dos próprios alunos, que através de diversas atividades extracurriculares buscam desenvolver soft skills, atitude empreendedora, ter contato com o mercado, ampliar sua visão de mundo, aumentar sua capacidade de resolver problemas, entregar resultados, entre tantas outras aptidões. Podemos citar como entidades estudantis na vanguarda desse movimento educacional:
· Ligas Universitárias: Movimento muito forte em outros países, principalmente nos EUA, onde alunos que possuem um interesse em comum — como empreendedorismo, negócios, mercado financeiro, engenharia, entre outros — se juntam em grupos para se desenvolver nessa área de interesse por meio de grupos de estudo, eventos, cursos, consultorias, entre diversas outras atividades.
· LabX: Programa da Fundação Estudar no qual jovens são treinados para poderem ministrar um programa de formação de liderança, visando auxiliar outras pessoas a descobrirem o seu sonho e desafinado-as a colocá-lo em prática ligando sonho e carreira.
· Movimento CHOICE: Programa desenvolvido pela Artemisia que forma universitários engajados em negócios de impacto social, que se desenvolvem através de desafios e realização de palestras e workshops promovendo o conceito de negócios de impacto social.
· Movimento Empresa Júnior: É uma associação sem fins lucrativos, composta exclusivamente por alunos de graduação e que funciona como uma empresa, oferecendo serviços a baixo custo para o mercado. Desse modo ganham os alunos que começam a por na prática a teoria vista na universidade e a sociedade visto que muitas micro e pequenas empresas não poderiam contratar uma consultoria de qualidade para desenvolver seus negócios, mas conseguem ter acesso aos serviços de uma Empresa Júnior.
· Enactus: Grupo composto por estudantes universitários que se reúnem para levar o conhecimento da universidade até comunidades de baixa renda, onde desenvolvem projetos que ajudam a melhorar a comunidade, mas de tal modo que possam deixar a comunidade e o projeto continuar a ser gerido pelos membros da própria comunidade.
Embora já existam iniciativas desse tipo em muitas universidades, às vezes os alunos que as desenvolvem não encontram o apoio da universidade e de professores, enfraquecendo esse tipo de iniciativa que permite ao aluno se tornar protagonista do seu aprendizado e aprender de modo mais interessante que na sala de aula, uma vez que consegue ver o conhecimento na prática, faz isso por vontade própria e ainda ajuda a comunidade. Tudo isso sem custo ou a um custo muito baixo para a universidade.
Para atingir uma nova educação de qualidade e congruente com o cenário atual, precisamos de professores capacitados e acima de tudo com vontade e coragem de mudar o modelo educacional vigente no qual se formaram. Precisamos também de alunos com um perfil mais pró-ativo e engajado, que consigam realmente vislumbrar aplicação dos conhecimentos aprendidos.
No alvorecer do século XXI surgem novos problemas e com eles a necessidade de uma nova educação para formar gente mais preparada para lidar com desafios e propor soluções inovadoras. Para isso temos que mudar a mente de diversas gerações, que ao longo de aproximadamente 400 anos foram ensinadas de um jeito e lhes mostrar que é possível aprender de modo mais produtivo e interessante. É nossa obrigação lutar por uma educação de qualidade para formar pessoas mais preparadas e capazes de causar grande impacto na sociedade, permitindo que realizem seus sonhos e impactem muitos outros.