Como as faculdades podem se adaptar ao futuro do trabalho
Praticamente todos os setores estão mudando com o avanço da automação e da tecnologia, e isso impacta também na formação dos jovens profissionais
O mundo está no meio de uma grande transformação, causada principalmente pelos avanços na automação e na tecnologia, incluindo nesse cenário a inteligência artificial e o uso e análise crescente dos dados. Com isso, muito tem se falado da necessidade de requalificação dos trabalhadores, para o futuro do trabalho, mas a discussão vai além e chega às universidades, em como elas precisam se adaptar a esse novo cenário.
"Embora a maioria dos debates em torno do futuro da educação se concentre nas habilidades necessárias para o futuro, é igualmente importante discutir as inevitáveis transformações estruturais do ensino superior"
Adam Graafland Nordlund e Simon Fuglsang Østergaard, Instituto Copenhagen de Estudos Futuros
Enquanto alguns empregos estão sendo automatizados e outros estão mudando significativamente por causa da tecnologia, também há novos mercados e empregos sendo criados – alguns dos quais, aliás, eram inimagináveis há pouco tempo e hoje já existem, o que se repetirá no futuro.

Foto ilustrativa (Freepik)
Nessa economia acelerada, o aprendizado deve ser visto como um esforço ao longo da vida para os indivíduos em todas as fases da carreira, na opinião de Farnam Jahanian, presidente da Carnegie Mellon University.
Farnam escreveu um artigo em que fala sobre como o ensino superior e seus parceiros devem se adaptar para fornecer à força de trabalho as competências e habilidades fundamentais de que precisam agora e no futuro. Ele destaca quatro aspectos:
Foco nas habilidades humanas, não apenas no digital
Com o avanço da tecnologia, as habilidades necessárias para acompanhar esse ritmo de evolução mudam rapidamente. Por isso, na visão do presidente da Carnegie Mellon University, educadores e líderes de ensino superior devem abordar a competência de habilidades com uma mentalidade flexível, que atenderá bem os alunos em toda a economia do conhecimento e as carreiras a ela relacionadas.
"É inegável a necessidade de treinar a próxima geração em competências digitais emergentes e de ser fluente em projetar, desenvolver ou empregar tecnologia com responsabilidade. Ao mesmo tempo, os alunos do século XXI devem aprender a abordar os problemas de várias perspectivas, cultivar e explorar a criatividade, envolver-se em comunicações complexas e alavancar o pensamento crítico", descreve Farnam. "Com um futuro do trabalho em constante evolução, essas habilidades ‘humanas’ não automatizáveis são fundamentais e terão ainda mais valor à medida que a automação se tornar mais popular."
Abordagem do conhecimento em "T"
O amplo conjunto de habilidades necessárias para a força de trabalho de amanhã também afeta a abordagem da estrutura educacional.
Farnam comenta que, assim como aconteceu em outras escolas, na Universidade Carnegie Mellon, fundada em 1967 e localizada no estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos, as fronteiras disciplinares estão "mais porosas" e foram lançados programas nas interseções dos campos tradicionais, como economia comportamental, biologia computacional e uma conexão entre design, artes e tecnologia.
"Acreditamos que essa abordagem prepara nossos alunos para um futuro em que pensar e trabalhar além dos limites será vital"
Farnam Jahanian, presidente da Carnegie Mellon University

Foto ilustrativa (Pixabay)
Segundo o acadêmico, o valor da combinação de amplitude e profundidade no ensino superior também levou muitas universidades a adotarem filosofias de ensino e aprendizagem em "T", nas quais a experiência vertical (profunda disciplina) é combinada com o conhecimento horizontal (transversal).
Aprendizado personalizado e aprimorado pela tecnologia
Em 2022, estima-se que as fábricas empreguem mais graduados do que trabalhadores com ensino médio ou menor qualificação, segundo dados compilados pelo jornal americano "The Wall Street Journal".
De acordo com Farnam, o aprendizado aprimorado pela tecnologia pode ajudar a acompanhar essa demanda, oferecendo caminhos para a força de trabalho atual adquirir novas habilidades. "As ferramentas de aprendizagem baseadas em inteligência artificial desenvolvidas na última década têm um potencial incrível para personalizar a educação, melhorar o acesso à faculdade e os resultados educacionais", diz ele, que vai além.
"Talvez o mais importante é que o aprendizado aprimorado pela tecnologia tenha um potencial atraente para diminuir as lacunas socioeconômicas e raciais entre os estudantes"
Farnam Jahanian, presidente da Carnegie Mellon University
Engajamento para o setor privado e público
Na visão do acadêmico, setor privado, governo, educadores e formuladores de políticas devem trabalhar juntos para oferecer múltiplos caminhos para os jovens que buscam seu primeiro ponto de apoio no mercado de trabalho, bem como para requalificar e aperfeiçoar os trabalhadores que se esforçam para manter seu lugar no mercado.
"O setor privado poderia, por exemplo, repensar o desenvolvimento do capital humano como um investimento a longo prazo e focar no desenvolvimento da liderança e na criação de programas vocacionais. Outras opções para aumentar o acesso à educação e treinamentos podem incluir políticas fiscais que incentivem o desenvolvimento da força de trabalho", conclui Farnam.
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